O manifesto da arte através da tatuagem


Bruna Moraes

Coloridas, sombreadas, assimétricas e tribais. Esses são alguns exemplos dos mais diversos estilos de tatuagem existentes.
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"Looking good, lady" (Foto: Laurence King/REX Shutterstock)
O ato de colorir a pele com pigmentos de tinta é uma pratica executada ao redor do mundo há séculos. Mas, você sabia que nos primórdios do tempo, as pessoas buscavam “eternizar um rito de passagem”, ao invés de somente embelezar o corpo com esse tipo de arte?
Como, por exemplo: o nascimento, a chegada da adolescência, a transformação de um garoto em guerreiro, sacerdote ou monarca; a oficialização de um casório, sinais impressos nos prisioneiros. Enfim, tudo sempre fora muito ligado a um rito de passagem.
Na sociedade contemporânea, a tatuagem mais representa um estilo de vida, comportamento ou até mesmo de beleza, já que muitos as fazem por questões de estética.
Entretanto, não é o caso de Camila Rigo, paulista de 28 anos, que tem o corpo repleto de figuras icônicas e significativas, somando mais de trinta tatuagens no total.
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Camila Rigo/ Foto: Acervo pessoal
“Todas as minhas tatuagens tem um significado por trás, eu nunca fiz para as pessoas, foi sempre pensando em mim, nunca tive o intuito de “me aparecer” eu acredito que as chances de você se arrepender por fazer por estética são muito grandes, porque se você faz no calor do momento algo que está “na moda” e depois de um tempo isso perde a graça, você tem que lidar com isso a sua vida inteira.” Adverte.
Camila também conta que a sua maior motivação, foi o seu amor pela arte: “É uma forma de me expressar, eu sou uma pessoa muito fechada, e isso é até uma grande contradição porque, eu não gosto de ser notada, por exemplo, chegar aos lugares e todo mundo ficar me encarando, mas eu tinha essa necessidade de expor o que eu sinto. Eu vejo como uma forma de transmitir a mensagem que eu quero passar de mim para o mundo”.
Como é feita?
As tatuagens são feitas através da aplicação de tinta na região da pele conhecida como "derme", localizada logo abaixo da camada mais externa da pele, a "epiderme", a tinta é injetada através de agulhas finas.
Até pouco tempo atrás, esse procedimento não poderia ser revertido, porém, atualmente existe um procedimento a lazer que é capaz de remover a tinta na pele através de demoradas e dolorosas sessões. Porém, mesmo com a retirada a lazer, normalmente não é possível evitar a permanência de cicatrizes ou vestígios de coloração sobre a pele.
Entre as grandes variações de estilos de tatuagem, a mais significativa e popular, acaba sempre sendo a tribal. Esta que já foi muito praticada na Polinésia francesa no século XVI, foi descoberta pelo aventureiro inglês James Cook, responsável por introduzi-la no mundo ocidental. Nas ilhas, ela era conhecida como ‘tatau’, por causa do ruído provocado pelo contato da vara com o argueiro, utilizado para inserir os pigmentos na pele. Foi assim que a palavra "tattoo" ou "tatuagem", nasceu.
Mas o que seriam das tatuagens, sem um bom profissional por trás delas? 
Bruno Guilherme é tatuador na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, e conta como começou a sua jornada nesse mundo artístico:
“Eu decidi virar tatuador porque, desde pequeno eu desenho. Eu sempre fui envolvido com a arte e por esse mesmo motivo, eu sempre tive vontade de fazer algo relacionado a isso na minha vida, mas eu acabei nunca tendo oportunidade de ganhar dinheiro em questão a isso. Trabalhei numa empresa durante dois anos e três meses, na parte de segurança do trabalho, algo em que eu não sentia prazer nenhum em fazer.”
Ele também conta que comprou seu primeiro equipamento escondido de seus pais: “Mesmo com eles dizendo que foi a pior coisa que eu fiz na vida, até hoje eu não me arrependo de ter comprado, foi a melhor escolha que eu fiz para mim”, afirma.
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"From Hell Tatto Studio"/ Foto: Bruno Guilherme
Não só na cidade de Tatuí, mas o ramo da tatuagem em si, é um mercado muito acirrado, que cresce cada vez mais a cada dia que passa, “todos os dias você encontra novos tatuadores fazendo trabalhos muito legais e outros nem tanto, para você ser um cara diferenciado é muito difícil, eu falo por mim, porque eu não tenho tanto tempo de experiência como alguns tatuadores aqui da cidade, mas você ter um bom atendimento, um preço legal, é bem como o trabalho de um garçom, você atende a pessoa de forma boa e ela sai satisfeita com o seu trabalho, com certeza ela vai querer voltar”.
Bruno se destaca por saber desenhar, não são muitos os tatuadores que conseguem entregar um desenho exclusivo para os seus clientes, e isso é sem duvidas, um grande diferencial.
“Tatuagem hoje para mim é tudo, é um estilo de vida, é o meu sustento. Quero viver minha vida inteira fazendo tatuagens e eu nunca vou me arrepender de ter escolhido seguir essa profissão.” Finaliza o tatuador.
Acreditava-se que através dessa forma de expressão, ou seja, através das tatuagens, era possível conquistar a proteção divina e definir a sorte da alma em sua esfera física e espiritual. Em suma, era um método de aproximação ao que chamamos de sagrado. Em meados de 2.000 a.C. os sacerdotes da Núbia, situado no vale do Rio Nilo, hoje compartilhada pelo Egito e pelo Sudão, já se era praticada a escarificação, que nada mais são do que incisões na pele.
Assim como no inicio do Cristianismo, quando os cristãos eram perseguidos, era bastante comum que eles tatuassem uma cruz, os caracteres IHS, peixes ou letras do alfabeto grego. Elas funcionavam como códigos secretos, que lhes permitiam reconhecimento mútuo. Entretanto, mais tarde a Igreja passou a condenar essa pratica.
Mercado de Trabalho
Apesar de parecer um discurso antiquado, a tatuagem, por mais popularizada que esteja atualmente, ainda é alvo de preconceitos, principalmente quando o assunto é mercado de trabalho.
“Eu trabalhava em uma loja onde alguns clientes não queriam ser atendidos por mim. Em entrevistas de emprego, muitos já não me chamaram por eu ter tatuagem, fico marginalizada”, relata a tatuada, Camila Rigo.
A hesitação de algumas empresas perante a contratação de um tatuado vem da associação automática a algo pejorativo, como vandalismo. Isso porque o histórico dessa prática só é reconhecido pelas passagens obscuras ao caminhar dos séculos. “Quem têm tatuagem é bandido” é um termo tristemente comum, acompanhado de: “é pecado”.
Porém, as áreas comunicativas costumam ser mais flexíveis no quesito tatuagem, por lidarem mais com o imaginário e com um público mais receptivo. Mas, não se deve esperar o mesmo tipo de receptividade das áreas de saúde, direito, finanças e engenharia. Estas, quando tolerantes, sugerem que a tatuagem não deva ser exposta no ambiente de trabalho.
Na justiça
Segundo o Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), há registros de condenações do Tribunal Superior do Trabalho (TST) a pagamento indenizações de R$ 30 mil, por danos morais a funcionários tatuados, rejeitados.
A coordenadora de treinamentos do Nube, Eva Buscoff, afirma que "todo e qualquer tipo de restrição infundada, com origem em preconceitos, rotulações e julgamentos é sinal claro de desrespeito com o próximo. Nesse sentido, não podemos concordar em eliminar um bom candidato utilizando, como critério de corte, sua tatuagem.’’
Mesmo com a expectativa de melhora com o passar dos anos em relação à tatuagem, é visível que o preconceito ainda prevalece. O que se espera, é que haja uma reeducação sobre o assunto em questão. Uma única pessoa não pode mudar isso, mas com o número crescente de pessoas tatuadas, ao menos, a questão do preconceito no âmbito de trabalho deve ser reconsiderada. E essa pratica, já tão antiga, tende a crescer mais e mais com o passar dos anos.

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