A crença no improvável


Acredita-se que um espelho quebrado lhe trará 7 anos de azar. Créditos: Thinkstock.
Superstições são comuns no mundo todo, refletindo as diferentes culturas de cada país em suas próprias crenças. Quem nunca desvirou o chinelo que estava de ponta cabeça para não matar a própria mãe? Ou evitou abrir um guarda-chuva dentro de casa para não atrair azar?

Essas crenças estão relacionadas à suposição de que forças sobrenaturais influenciam nas nossas vidas. Passadas de geração em geração, podem ter relações com tradições populares ou terem origem religiosa.

Na Polônia, por exemplo, acredita-se que quando uma grávida olha muito para o fogo, seu filho nascerá ruivo. Já os romenos, acreditam que, se uma mulher se sentar diretamente no chão, sem um tapete ou almofada, ela nunca conseguirá engravidar, pois seus ovários congelarão. Na Grécia, não são cortados cabelo de meninos na lua cheia, pois acreditam-se que eles ficarão carecas.

Mas algumas superstições que são positivas para alguns povos, podem ser negativas para outros. Esse é o caso do número 7, que para os norte-americanos e europeus, é um número da sorte, por ser cercado de coincidências. Segundo o cristianismo, o mundo foi criado em 7 dias, há 7 dias na semana, e 7 maravilhas no mundo, levando eles a crer que o número é bastante positivo. Mas já para os chineses, a história é outra. O número é cheio de azar, já que no sétimo mês chinês, os portões do inferno são abertos, deixando os mortos passeando entre os vivos.

Muitas dessas superstições, não sabemos como ou quando surgiram, elas nem ao menos tem algum embasamento científico, mas se tornam extremamente comuns na sociedade, fazendo muitas pessoas levarem a sério. “Eu acredito em superstições por elas serem geralmente de tradição familiar, você escuta tanto aquela coisa que passa a ser parte da sua vida. E como eu acredito também que o que pensamos nos move, eu seria totalmente contraditória se dissesse que não acredito”, diz Carmen Lúcia, dona de casa.

Ela conta que desde muito nova escuta sua família replicar diversas superstições, sendo a mais comum, a do chinelo virado. “Mas essa passou a ser brincadeira na nossa família, e é uma coisa que até minhas filhas brincam sobre hoje em dia”.

Já Alícia Vieira, estudante de Direito e História, superstições são muitos sérias para ela, que se considera metódica. “Minha família nunca acreditou em superstições, sempre falaram por brincadeira, mas eu não consigo seguir normalmente a minha vida se alguma das superstições que eu acredito são quebradas; tipo gato preto cruzar meu caminho, eu fico agoniada demais, se eu derrubo sal na mesa jogo pra trás, e assim vai”.

Ferraduras são comumente relacionadas à sorte. Créditos: Pixabay. 

Essas crenças populares são tão famosas no mundo todo, que achamos facilmente reproduções delas em desenhos, filmes, séries e afins. O desenho popular chamado “Padrinhos Mágicos” já mostrou uma sexta-feira 13 do Jimmy, protagonista, cheia de azar em um dos seus episódios chamado “A velha magia negra”. No filme de comédia romântica “Sorte no Amor” de 2006, é retratado de uma forma cômica uma garota sortuda e um garoto azarado trocarem a suas sortes após um beijo. No filme é mostrado a sorte totalmente baseada em forças sobrenaturais e em crenças populares, como astrologia, espelhos, gatos pretos, ferraduras e afins.

Mas as superstições podem também não serem apenas retratadas de um jeito engraçado, o que é o caso do famoso filme de terror chamado Sexta-feira 13. O número 13 é comumente relacionado a coisas ruins, acreditando-se ser o dia do azar.

Esse número é realmente levado a sério pelos norte-americanos, por exemplo. Frank Zulauf, Engenheiro Civil e Sanitarista fez uma visita aos Estados Unidos para a realização de um projeto, e se deparou com a falta do número 13 em muitos prédios. “Visitei arranha-céus onde o andar 13 não existia, e já que nunca fui supersticioso, acho isso cômico e surreal. Minha família acredita em algumas crenças populares, como quebrar espelho, passar por debaixo de uma escada, bater três vezes na madeira... Mas nunca achei que isso influenciaria na minha vida, muito pelo contrário, já usei delas para provocar. Lembro que já escolhi uma placa de carro com o número 1313 só por acreditarem que traria azar”, conta.

Se há forças sobrenaturais influenciando nossos atos, não conseguimos afirmar comprovadamente, mas a nossa mente pode nos sacanear. “Se eu acredito que algo vai dar errado, eu mesma acabo me levando a caminhos que no final vão me trazer resultados negativos, então no final, as superstições que sigo, acabam realmente me levando ao fim pessimista que imaginei”, reflete Camila Campos, estudante de arquitetura.

Existindo desde sempre em nossa sociedade, as superstições são cercadas de suposições sobre suas origens, nos levando a questionar suas veracidades e até onde elas podem influenciar o nosso dia a dia. Mas a única certeza que temos, é que sendo reais ou não, o ser humano sempre está a procura de achar sentidos no mundo onde vivemos, nos levando a ter crenças que ultrapassam qualquer explicação lógica. Então, se elas nos ajudam a continuar com os pés no chão, que mal faz acreditar um pouquinho no improvável?

Nenhum comentário:

Postar um comentário