63 anos de história do Conservatório Musical de Tatuí

Teatro Procópio Ferreira, onde são realizadas as apresentações do Conservatório.
Foto: Divulgação/ Créditos ao Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos.
Tatuí é um pequena cidade do interior de São Paulo, contendo cerca de 117.823 habitantes ao todo. Apesar de ser um município pequeno, seu tamanho não o impede de possuir o maior e mais tradicional conservatório musical da América Latina, atraindo anualmente, pessoas de todos os lugares.

Levando o nome de Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, a escola é considerada uma das mais respeitadas da América Latina, tendo mais de 60 anos de história. Ganhou esse nome prestando uma homenagem a um politico muito importante para a música no estado de São Paulo, que além de atuar nessa área, também compunha operas, o que fazia dele, uma exceção na área politica.

O conservatório ainda conta com um teatro chamado Procópio Ferreira e uma biblioteca que contém mais de vinte três mil e quinhentos exemplares. Entre eles se encontram manuscritos, partituras, livros e vídeos, além de 6.000 discos de vinil e 900 CDs relacionados à música e artes cênicas. Além disso, no acervo também se encontram os instrumentos do curso de luteria, assim os próximos alunos podem fazer uso dos mesmos para as suas aulas. 

Seus 51 cursos são voltados para as áreas de música erudita, música popular, artes cênicas e construção e manutenção de instrumentos musicais, conhecido como Luteria. Todos gratuitos, com duração média de seis anos, tendo alguns dos cursos sendo lecionados desde 1954 até os dias de hoje, como piano, violino, clarinete e flauta.

Fora os cursos básicos que são lecionados desde o começo do conservatório, um curso interessante a se mencionar, é o de Luteria. “O curso é lecionado desde 1980, e o conservatório é o único lugar que proporciona um curso técnico para construção e manutenção de instrumentos no Brasil”, conta Deise Voigt, gerente de comunicação do Conservatório. Os alunos desse curso produzem réplicas de instrumentos clássicos, que ficam guardados no acervo, onde qualquer aluno pode ter acesso, principalmente os alunos que música erudita que os usam em suas aulas.

Como incentivo para os estudos, o conservatório fechou uma parceria com a ETEC de artes de São Paulo, dando a oportunidade aos alunos de terem aulas lecionadas por professores da escola de artes, que vão uma vez por semana até Tatuí. Então ao final dos seus estudos, o aluno, além de ganhar um certificado do próprio Conservatório, também se torna um técnico em música ou técnico em construção de instrumentos, agregando assim a sua experiência.

Ainda segundo Deise Voigt, até a década de 80, o conservatório só contava com aulas de música clássica, o que acabou resultando em muitos profissionais da área, terem sua formação vinda da escola. Já no meio artístico, nasci em Tatuí e fazendo sucesso em novelas da Globo, podemos citar Vera Holtz.

Com mais de 400 funcionários, a escola atende 2.357 alunos em Tatuí e 100 em uma unidade em São José do Rio Pardo, que é a única extensão existente.

Entre os funcionários dentro do conservatório, há inúmeros maestros contratados, entre eles, o também violinista Adriano Machado, que desenvolve uma fusão entre a elegância da música clássica e a descontração da música popular. Adriano já trabalhou com artistas de grande renome, tais como: Roupa Nova, Zezé Di Camargo e Luciano, Sérgio Reis, Roberto Carlos, Bruno & Marrone, Fabio jr e KLB. 

A escola de música foca na formação de profissionais. Então para ser aluno, basta querer estudar. No caso da área musical, cada instrumento tem uma idade mínima para se iniciar, variando de 7 a 12 anos, dependendo da aula que o aluno está interessado. Segundo Deise, para as crianças, quanto mais cedo se iniciar na música, mais chances ela tem de se tornar um profissional. Tirando a idade mínima obrigatória, não é preciso ter nenhum conhecimento musical.

Alunas realizando a 3ª Semana de Performance Histórica. Foto: Divulgação do Conservatório.


No caso da aluna Merlize Moreira Sousa, que saiu de Osasco para vir estudar no interior, esse foi o motivo pelo qual ela, que está em seu penúltimo ano do curso de canto lírico, optou por iniciar seus estudos no conservatório. “Eu não tinha nenhum conhecimento de música, apenas vontade de entrar no ramo, e o Conservatório foi o único lugar que me aceitou como aluna nessas condições”.

Karolyne  Delgado, aluna de artes cênicas também está cursando o seu último ano, e contou como o contato com os seus professores foi enriquecedor e importante para a sua experiência. “Todos os professores tem formações esplêndidas e acrescentam muito na nossa experiência, então aprender tudo que aprendi com eles, tanto dentro como fora de aula, foi a minha melhor experiência dentro do conservatório.  

É importante que haja um bom contato entre alunos e professores. Isso vale para qualquer instituição de ensino. Karolyne conta que o seu relacionamento com esses profissionais foi algo muito importante em sua jornada dentro do conservatório, e que quando os cortes começaram a serem feitos dentro da instituição, quais mandaram professores de grande renome embora, isso gerou uma grande revolta entre os alunos. Que assim como ela, prezam por esse contato.

Os protestos por parte dos estudantes começaram nas ruas, com uma passeata pelo centro da cidade, carregando faixas e cartazes. Eles reivindicaram, de forma pacifica, melhorias na infraestrutura e mais transparência na administração. Além de pedirem para que a cidade volte a investir em eventos musicais e teatrais.

Diversas manifestações ocorreram, mas a gota d’agua para os alunos foi o fechamento da escola durante um encontro de músicos, e a demissão de um dos fundadores do curso de MPB e jazz, Paulo Flores. Nesse dia, os alunos se reuniram na frente da entrada do conservatório e protestaram em forma de sarau, com instrumentos musicais.

Os cortes não tiraram apenas professores, mas também diversas oportunidades que os alunos tinham acesso, e hoje foi dificultada. O conservatório sempre ofereceu uma série de bolsas de estágio para os seus alunos, mas por conta desses cortes que a escola sofreu, muitas delas foram tiradas, dificultando a experiência dos seus alunos nas áreas em que pretendem atuar.

“As manifestações começaram quando começou os cortes do conservatório. Começaram a se cortar festivais, equipamentos de som, o nosso setor de artes cênicas começou a ficar sem materiais. Depois disso, uma série de coisas começaram a ser levantadas, agora atualmente junto com os cortes, tem o fato da nova gestão do conservatório não dialogar mais com os alunos”, desabafa Karolyne.

Em 2006, parte do conservatório foi comprada por uma empresa privada, fazendo com que o conservatório não seja mais totalmente pública. Isso aconteceu pelo governo de estado diminuir a verba mandada para o conservatório cada vez mais. “Se continuar nesse ritmo, vai chegar uma hora que teremos que pagar para estudar no conservatório, e sabemos que mutos alunos não tem condições para isso, então precisamos nos mobilizar para não deixarmos isso acontecer”, completa a aluna Karolyne.
Apesar dos seus altos e baixos, o conservatório de Tatuí ainda é de grande renome no meio artístico, formando grandes profissionais da arte dentro do Brasil. As portas do conservatório Dr. Carlos de Campos estão sempre abertas para quem quer conhecer um pouco mais desse meio artístico.

Para assistir algumas das suas apresentações, que englobam desde teatros, orquestras, bandas e cantos, sendo pagos ou gratuitos, é preciso estar ligado em sua agenda, disponível em seu site e no próprio conservatório. Seu funcionamento é de segunda a sexta, dependendo do horário da apresentação desejada. 

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